quarta-feira, maio 17, 2006

Capitulo III

Capitulo III

Quando partimos para esta aventura, tínhamos ouvido dizer que o Caminho, na parte portuguesa, estava mal marcado. No entanto, ficámos surpreendidos, com tantas setas amarelas!
Para quem não sabe, são as setas amarelas, pintadas na sua maioria, que indicam o Caminho.
Por baixo, ou ao lado, vêem-se setas azuis, numa tentativa de marcar o caminho Santiago – Fátima.
Como dizia, o Caminho está bem marcado. Logicamente há alguns pontos que nos deixam na dúvida, no entanto, rapidamente nos colocamos no trilho certo.
Saídos do Porto, tínhamos em mente chegar nesse dia a Barcelos. Esperavam-nos 52 quilómetros.
A saída do Porto foi relativamente complicada. Muito trânsito, e muitas ruas só para peões, o que obrigava a um cuidado redobrado.
Mas depois, como ainda estávamos fresquinhos, foi sempre a rolar.
Porém, a meio do percurso vieram as complicações. O Caminho começou a fazer das suas. A Susete e a Dora começaram a ressentir-se um pouco do esforço.
No entanto, foi em Vilarinho que veio o primeiro susto. Estávamos nós no centro (acho eu) com direito a música popular e tudo (gravada claro) quando reparo que a Dora estava no chão! Os músculos faziam-se sentir e resolveram reclamar. Resultado: Cãibras.
Depois de umas massagens, a Dora recompôs-se.
Como já pedalávamos há umas horitas e estávamos a ficar com larica, resolvemos atascar mesmo ali.
Comprámos um fiambrito e um queijito e com o folar, o pão de ló e os pastéis de nata que levávamos lá fizemos o nosso banquete!
Vilarinho, pelo que vi, é uma localidade engraçada. E mais engraçado foi termos chegado numa altura de festa popular. Aquele ambiente foi muito bom!
Até havia uma banca que vendia peças de artesanato! Imaginem, e esta é digna de figurar naqueles mails do tipo “Portugal no seu melhor”, até haviam á venda ratoeiras para... ratos!
Depois da segunda dose de cafeína do dia, lá partimos em direcção a Barcelos.
A segunda parte do percurso foi de maior contacto com a natureza. Havia muito mais floresta e trilhos por caminhos de terra.
E foi num destes trilhos que tive uma das surpresas mais belas da viagem.
Estava parado na palheta com o João, quando um pequeno coelho, passa à nossa beira.
Assustando-se com a nossa presença, volta para trás, estacando-se, no entanto, dois ou três metros á frente, na segurança de um muro de adobo. Lá tirei a minha máquina e fotografei-o!
Ele até parecia que estava a perceber, deixando-se fotografar por uns largos segundos. Porém, lá se cansou, e aproveitando uma distracção propositada da nossa parte, deu cordas às patas e lá largou a correr, direito ao seu destino.

Depois deste episódio montei a bicicleta e segui o trilho a o encontro da Cris, enquanto o João aguardava pelo Zé, a Dora e a Susete.
Sozinho pelo caminho, aconteceu o inevitável... Perdi-me! No entanto, nada de preocupante, primeiro porque depois de pedalar umas centenas de metros encontrei o caminho correcto e depois, pelo que depois a Cris me contou, consegui escapar-me a um trilho cheio de lama e água.
A esta altura já se destinguiam dois grupos: o meu, da Cris e do João e do Zé, da Dora e da Susete.
Pouco depois de me ter perdido, reencontrei-me com o João e a Cris, e juntos lá fizemos os últimos quilómetros que faltavam.
Quando chegámos a Barcelos dirigimo-nos à igreja Paroquial.
Entrei. Suaves cantos gregorianos percorriam o ambiente. Foi uma sensação fantástica! Parecia que tinha viajado no tempo, e não fora o sacristão, vestido ao século XXI, com fato e gravata, diria que estava a centenas de anos de distância, daquele dia 17 de Abril.
Depois de “acordar”, era hora de procurar um tecto para essa noite.
Não seguindo as instruções de duas senhoras, que, muito simpáticas, estiveram a dar indicações mais de 5 minutos, fomos parar a um largo, onde grupos de pessoas, assistiam a espectáculos de cantares ao desafio!
Parámos na primeira pensão que vimos. A Residencial Arantes.
Foi a Cris quem “negociou” o alojamento: 12,50€ com pequeno-almoço, e um telheiro para as bicicletas!
Negócio fechado!
O pior, foi termos de subir com as bicicletas às costas para o primeiro andar... Mas isso até nem foi nada de especial, conforme viríamos a ver no dia seguinte!
Entretanto, a Dora, o Zé e a Susete ligaram a dizer que tinham chegado.
Fomos buscá-los à mesma igreja que, alguns minutos antes, nos tinha recebido.
Voltámos para a pensão, onde uma banheira cheia de água quente me aguardava...
Eu sei que é pouco ecológico e dispendioso, mas depois de pedalar ao sol cerca de 50 km, uma banheira de água quente é um prémio justo!
Depois de estar de molho uma boa meia hora, era altura de dar lugar a outro.
Um jacto de água fria nos músculos das pernas foi o tónico final. Li este conselho num sítio da Internet, e digo-vos, não é agradável ao início, mas depois... Dá resultado. Juntando a esta “receita” uma massagem com Picalm, e estamos prontos para outra!
Barcelos e Ponte de Lima, no dia seguinte, tal como constatámos, são localidades que se deitam com as galinhas.
Faltavam poucos minutos para as 21h, e a maior parte dos restaurantes já estavam fechados. Os que estavam abertos eram tascas ou já não serviam refeições. Por sorte, lá encontrámos um que atendeu 6 peregrinos famintos e cansados.
Um polvo frito foi o meu repasto, acompanhado de uma cerveja preta geladinha...
O dia ia longo. Apesar de já termos percorrido vinte por cento do trilho, ainda faltava muito...
O cansaço começava a apoderar-se de nós, e as pálpebras teimavam em fechar.
Amanhã o dia começava cedo...
Era momento de dormir...

1 comentário:

Anónimo disse...

aves livres voam...
fico feliz por saber que tens ao teu lado uma pessoa que te amas e vice-versa...... saudades