sábado, abril 25, 2009

Um Orgulho...

A cabeça amarela... é a minha maninha :)



"São quase todos estudantes. Três rapazes e seis raparigas completam o grupo de teatro ARTEC. Mas há alguns com vidas de trabalhadores. Une-os o facto de, durante cerca de dois meses, se terem reunido quase diariamente, em horários pós-laborais, para fazerem teatro amador. Alguns entraram este ano para o grupo, outros já faziam parte da mobília.
O líder da trupe é Marcantónio Del Carlo e, embora seja o encenador do ARTEC, gosta de frisar, nos ensaios menos bons, que não é nenhum “mestre-escola”. É ele que impõe ordem no Bar Novo da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), o espaço que acolhe o ARTEC tantas noites.
As paredes deste bar já conhecem muitas histórias de teatro passadas. Desta vez, sabem que a peça a estrear hoje, NÚ, trata de “um casal de estudantes que trabalha num call center e… não! Não é! Esta é a história de Youness, um estudante de Erasmus, que está em Portugal há pouco tempo e adora “tocar” as colegas debaixo da carteira, em Literatura Grega III”, escreveu Marcantónio Del Carlo no panfleto de divulgação.
Mas não se resume a isto. Quanto a mim, esta peça trata de “pôr a nú” as relações entre homens e mulheres no seio universitário... Lima aspectos relacionados com todos e com cada um de nós intimamente, da mesma forma que nos “toca” no íntimo de formas diferentes. O objectivo é rir e chorar, mas, acima de tudo, deixar-nos a pensar.



Para isso, foram necessárias muitas horas de dedicação, muita arrelia, e muitas horas sem dormir de todos os jovens actores amadores constituintes do grupo ARTEC, assim como do encenador, da produtora, da cenógrafa e do luminotécnico. Abdicou-se da vida social, do estudo para os exames, mas, por vezes, a solução foi mesmo adiar ou atrasar os ensaios.
Quanto aos actores, com quem contactei diariamente não propriamente para fazer esta reportagem, mas sobretudo por ter descoberto, tal como eles, a paixão do teatro, esperam que os espectadores se riam e chorem. Querem, como costuma dizer o encenador, “curtir” a representação. Está quase a estrear e os nervos em todos apertam.
“ Nú” estreia hoje no Bar Novo da FLUL e estará patente até ao fim de Maio, ou quem sabe mais tempo, às sextas e sábados pelas 22 horas.

in http://noticias.sapo.pt/info/artigo/990037.html

segunda-feira, abril 06, 2009

Até um dia...

A noticia apareceu sobre a forma de telefonema...
A constipação tinha-me deixado preguiçoso e molenga e aproveitei para descansar...
Era de manhã...
O sol há muito tinha acordado... Ao longe um tiriri, que eu não discortinava, ia-me trazendo à realidade...
Procurava o tal tiriri, mas não o encontrava... de facto, é dificil encontrar um telefone verdadeiro num sonho...
Acordei...
Finalmente, percebi donde vinha o tal tiriri, e porque o não o encontrava! Vinha do escritório...
Atendi...
"Amor, tenho uma noticia triste..."
Percebi logo que algo de errado se passava, e o meu pensamento voou para perto da realidade.
"... tenho uma noticia triste... o teu pai ligou-me... tem calma... a tua avó morreu...!"
A minha avó morreu...!
Como?
"Estava sentada, ontem à noite, e caiu inanimada... Não foi possível fazer nada..."
Foi assim...
A minha bó Céu, foi ter com o meu bô Tónho!
... Ao Céu! Ao sítio onde os filhos de Deus se encontram....
O filme das nossas vidas correu rápido à minha frente...
Um filme da frente para trás... Compreensivel... Primeiro, aquilo mais fresco...
A última vez que estive com ela no lar e lhe pedi a receita do seu leite creme... Hum, que delicia era! Nunca mais comi leite creme igual... e isto não é um daqueles chavões que se costuma dizer. De verdade! Nunca mais comi um leite creme, tão bom como o da minha bó Céu!
"Avó, diz-me como fazias o teu leite creme."
"Então, pões o leite a ferver com o açucar, a farinha, juntas as gemas..."
E o meu pai lá ia ajudando nas quantidades... Quantas colheres de farinha? Quantos ovos?
Mas mesmo assim dito pela artista, o leite creme da avó, feito como ela dizia nunca será igual. Falta a lareira, as galinhas e, sobretudo, a minha avó!
A minha avó Céu, nestes últimos anos, já não "andava bem".
A partida, há 15 anos, do meu avô, abalou-a...
A senilidade, própria de uma senhora na casa dos 80, transformou-a numa pequena "troca-tintas" que por vezes, roçava as fronteiras do... indelicado...
Pouco depois do meu avô ter ido para o Céu, a minha avó veio viver para o nosso pequeno T2.
Foi pela Páscoa.
Quinta feira Santa.
Ela tinha ido com a minha mãe às cerimónias da tarde.
"Vai andando Mena, e ainda fico por cá...". Da Igreja do Carmo a minha casa, distam cinco espaços do ponteiro grande de um relógio.
Pelo sim pelo não, eu e a minha irmã, fomo buscá-la. Lá estava... Do lado esquerdo, sentada, num banco...
- Vó, vamos? São quase horas de jantar...
- Mais um bocadinho...
- Ok, enquanto espero vou ali confessar-me...
A conversa com o frei, foi, sem querer, demorada.
Noc, noc...
- Mano, demoras, a vó quer ir embora.
- Vou já...
Chegados ao sitio onde a minha irmã tinha deixado a avó, ela não estava.
- Já foi andando, vamos para casa.
- A avó já chegou? Ainda não, mas ela saiu antes de nós... vamos procurá-la...
Corremos a cidade...
S. Pedro, lembrou-se também de fazer das suas...
Corremos a cidade... eu de bicicleta, o meu pai de carro, tal como o Nuno e o Pedro (a quem entretanto pedi ajuda)... Nada.
Desaparecida!
- Vamos à Polícia
- Não vamos
- Aguardamos mais um pouco...
- Vamos!
A minha bicicleta voou...!
Acho que nunca pedalei com tanta velocidade, nem quando fui perseguido por aqueles 5 cães...!
Cheguei à PSP, muito antes daqueles que foram de carro!
- Vim participar o desaparecimento da minha avó...
- Onde foi, que idade tem?
Os formalismos estavam a ser cumpridos, quando ouço o carro do meu pai a chegar. A Avó tinha aparecido!
Ao pé das bombas da Repsol, junto à Universidade.
Num rebate de lucidez, entrou nas bombas e pediu ajuda!
Lembro-me perfeitamente da sua cara de menina traquina, que acabou de fazer uma asneira!
Lembro-me da sua cara assustada...
Foi um susto para todos... foram cerca de 3 horas de "à procura da avó desaparecida..."

A minha avó era uma mulher do campo, da terra...
Do cheiro a quintal, a lareira, às rosas perto da janela da cozinha, às laranjeiras ao pé do ribeiro...

Lembro-me de a ver, de manhã, no "telheiro", a pentear o seu longo cabelo louro acizentado que apanhava numa trança e enrolava no cimo da cabeça, e o quanto eu admirava o seu cuidado, frente ao pequeno espelho, baço e velho que estava preso num lavatório antigo...

"Ah desgraçado que já foste ao galinheiro espantar as galinhas do choco!"

"Deixa os gatos em paz...!!"

"Cuidado com o galo! Ele é mau!"

"Quem tirar a palhinha mais pequena paga a rodada no café...."

Ontem, na missa, ao seu lado, pensava nisto tudo...
A Avó foi para o Céu ter com o Avô...

E assim, enquanto eu me lembrar das coisas que ela foi, fez e significou para mim, a minha avó viverá, para sempre! No meu coração, no meu pensamento.
Em mim, e nos filhos que terei e a quem irei passar os seus genes!

Tão cedo, não me fará o tal leite creme, mas sempre poderei dizer: Não há leite creme como o da minha vó Céu...

Até um (bom) dia...