Bom ano e bons dias!
Conto de Natal
António dormia profundamente quando foi acordado por uma leve brisa que lhe invadiu o quarto.
Abriu os olhos, carregados de sono, e viu uma pessoa ao seu lado, que lhe disse:
- Olá, Tó! Levanta-te e vem comigo... – Ao receber aquela ordem, nem sequer pestanejou! Não sabia porquê, mas aquela figura, inspirava-lhe confiança! – Vamos passear! Quero mostrar-te umas coisas...
Sem perceber como, encontrava-se na rua!
O sol há muito que se havia deitado e o frio invernal, tocava-lhe os ossos...
- Que vês?
- As luzes com cores que adornam a rua! Que bonitas! – respondeu António.
- E mais?
- Está tudo enfeitado a aguardar a chegada do Natal!
- Sim, é verdade! Mas que Natal?
Aquela pergunta baralhou o ensonado António. Não estava habituado a ser arrancado daquela forma do aconchego da sua cama...
- Que Natal? Mas que pergunta é essa? Então não se vê? Luzinhas, palhacinhos natalícios, bonequinhas natalícias, ursinhos natalícios, gorros vermelhos, azevinhos, pinheirinhos, sininhos... As montras todas enfeitadas com os produtos da moda... E a música no ar? Não é isto o Natal? Não vês as caras das pessoas? Fechadas, preocupadas com o que hão-de dar? Não é isto o Natal? Tantas promoções! Jogos, computadores, leitores de MP3, chocolates, telemóveis, viagens, créditos bancários que ajudam as pessoas nesta quadra... Não percebo a pergunta! – Respondeu António, visivelmente incomodado...
- Desculpa, não te quero apoquentar. – Disse, começando a caminhar – De facto, o que falas está correcto. Mas de repente pensei que se tinha perdido algo por aqui... Sabes, eu viajo muito... e hoje ao chegar cá, fiquei baralhado... Espera! – Cerrou os olhos e inspirou profundamente – Sinto o cheiro de doces! Filhoses! Que delícia! Eu adoro filhoses, sabias?
- Eu prefiro o bolo rei, mas de frutos secos...
- Cuidado com esse garoto todo sujo! – Gritou o estranho, olhando para um petiz que pedia uma “esmolinha”.
Desviaram-se.
Como é que é possível que nesta altura, ainda hajam pessoas como aquele miúdo!
Mais à frente uma velhota tentava, em vão, encontrar e apanhar os seus óculos que por infortúnio tinham caído ao chão.
De facto os óculos lá estavam, à distância de um braço, mas eles lá prosseguiram.
Continuavam o seu passeio, quando ambos se desatam à gargalhadas! Centenas de pessoas, entravam numa igreja para a Missa do Galo!
- Ele há cada uma...!!! Como é que é possível? Não terão mais nada para fazer?
- Realmente não percebo! O que é que isto tem a ver com o Natal? – Perguntou António.
- Se calhar não é para percebermos...
- Se calhar...
Continuaram. António sentia-se cansado. Afinal, tinha sido acordado a meio do seu sono, por aquela figura misteriosa!
Como por magia, há sempre magia neste tipo de histórias, António aparece sozinho junto à sua cama.
Pensativo, lembra-se de Charles Dickens... Estranho!
As pálpebras dos seus olhos, insistem em cerrar-se, e ele, deita-se na sua cama ainda quentinha, não sem antes pensar na aventura que tão misteriosamente viveu...
Que noite estranha!
E adormece profundamente...
Quando vem a si, pensa: Que sonho mais esquisito!
Vai á janela.
Tentou lembrar-se de todos os pormenores... E sorriu aliviado...
Ainda bem que foi só um sonho! Não suportava viver num mundo onde as pessoas punham tudo á frente do verdadeiro Natal, o nascimento do Deus Menino!
Não acreditava que as pessoas pudessem ser como ele e o seu companheiro misterioso que passaram ao lado do petiz e da velhota...
Não queria acreditar que o essencial do Natal se pudesse perder à entrada de uma qualquer loja...
Logo à noite, iria à Missa do Galo festejar o Nascimento do Menino! Não sem antes jantar com a sua família que tanto adora!
Sim este é o verdadeiro espírito do Natal. Sem pressas, sem se deixar vencer pela febre do consumismo, tendo sempre presente o nascimento de Cristo Salvador!
António dormia profundamente quando foi acordado por uma leve brisa que lhe invadiu o quarto...
PM
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