sexta-feira, junho 16, 2006

CAPÍTULO VI

O dia acordou cinzento e nós cheios de sono!
Depois do inquérito feito pelo companheiro de camarata, albardámos as bicicletas e fomos á procura de um boteco para tomar o pequeno-almoço.
Que saudades das pastelarias portuguesas!
Depois de meter alguma energia, lá nos fizemos ao Caminho, rumo a Caldas de Reis.
Esperavam-nos 70 quilómetros de pedal!
A partir de Tuy, o Caminho está marcado com um azulejo azul com uma viera amarela. De quando em vez aparecem uns marcos com a distância que falta percorrer.
O moral das tropas andava em baixo, mas a vontade de chegar a Santiago, era forte.
O Caminho em Espanha é mais fácil que em Portugal, quer a nível de piso quer a nível de declive, no entanto, o cansaço acumulado tornou tudo muito mais complicado.
Como sabemos, o Caminho de Santiago trilhado originalmente por peregrinos, tem muitas Capelas e Igrejas como pontos de referência e de passagem. Acontece que, algumas vezes, andámos o dobro apenas para passar á porta da Igreja ou Capela xis, e que até se encontravam encerradas!
As recordações dos dois últimos dias esfumam-se nas brumas da memória. De facto, as imagens são muito poucas! Pedal, bicicletas, as nossas caras de cansaço, subidas, outras subidas e ainda mais subidas! Qualquer declive por mais pequeno que fosse, era a “encarnação” dos Himalaias!
Mas nem tudo foi mau.
Alguns quilómetros da viagem fora feitos em asfalto. O único senão foi o facto de estarmos a atravessar o Polígono Industrial de Porriño, com os camiões e o tráfego a ditarem leis. No entanto, subindo para o passeio via-mos o trânsito passar-nos ao lado!
Depois de nos perdemos mais uma vez (a seta estava coberta com vegetação) entrámos na terra batida em direcção a Redondela.
Chegados lá, e depois de carimbar os passaportes e conhecer “los servicios”, umas sandochas de presunto e umas colas, no bar em frente, pareceram-nos um verdadeiro manjar de reis, tal era a galga!
O fim da jornada de hoje estava programado para Caldas de Reis, no entanto, quis S. Pedro, aliviar águas, e fomos nós quem levámos com ela!
Resultado: Apanhámos uma molha…
A vontade foi chegar o mais rápido a Pontevedra!
Chuvia copiosamente quando chegámos ao Albergue muito perto das 4 da tarde.
De lá veio a pior noticia do Mundo!
O Albergue estava cheio!
Estávamos nós quase em choque, quando todos se começam a rir! Tínhamos sido apanhados!
Afinal ainda havia camas!
Depois de carimbados os nossos Passaportes, e como era cedo, ainda olhámos para o firmamento nas esperança de ver a chuva partir, mas os 23 quilómetros que nos separavam de Caldas de Reis teriam de ficar para o dia seguinte!
Tomámos um banho quente, descansámos e perto da hora de jantar, fomos experimentar a verdadeira comida de Shopping Center! Umas Boccatas, no restaurante com o mesmo nome, foi o nosso repasto.
Apesar da chuva, um gelado veio mesmo a calhar!
Regressámos ao Albergue onde aproveitamos para gozar o “Dolce fare niente!...”, até serem horas de dormir.
Conhecemos várias pessoas, mas houve uma que me marcou: um Brasileiro a caminho da meia idade. A primeira vez que o vi, estava ele todo torto a fazer qualquer coisa tipo yoga.
Quando falámos, contou que tinha feito o Caminho Primitivo, quarenta e três dias de viagem!
Depois de chegar a Santiago, foi até Finisterra onde apanhou um barco para o Porto, iniciando aí o Caminho Português!
E eu que dizia que andava cansado depois de 4 dias de bicicleta!
Quando o João Pestana picou bilhete, deitei-me, qual guerreiro no seu justo descanso!
Dormia eu há não sei quanto tempo, sou acordado pelo João!
- Mas que é isto? Não tens vergonha? ‘Tás farto de ressonar e as pessoas querem dormir...
Eu não estava a perceber nada... Eu que era a pessoa mais perto de mim não ouvia nada! Que falsidade!
O resto da noite foi muito complicado... Com medo de “não” deixar dormir os valentes peregrinos, estive sempre a acordar. Ainda por cima, aquele senhor que me tinha acordado ao início da noite, decidiu roubar-me o protagonismo e desatou a ressonar!...
Eu percebi o que ele quis fazer... Acordou-me, falou comigo para toda a gente ouvir, e depois dormiu descansado pois as pessoas do albergue julgavam que era eu!
Mas ele paga-mas!

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