quarta-feira, maio 12, 2010

Cardoso: O Rafeiro com mais pedigree do mundo….


Conheci o Cardoso no dia 26 de Abril de 2010, na aldeia da Mata Pequena, perto de Mafra.
Era quase de noite e pouco tempo tivemos para nos conhecermos melhor.
No outro dia de manhã, vi-o ao fundo da rua, assobiei para o chamar. Ele olhou para mim e desceu a rua ao meu encontro… Tenho de reconhecer que no inicio ele me olhava de forma estranha e desconfiada, mais tarde vim a perceber o porquê.
- Olá, tudo bem? – na sua mudez, lá me foi dizendo que sim.
Era já tarde e tinha muito que visitar, despedi-me e pus-me ao caminho.
Á noite, quando regressei, lá estava ele! Vigilante, atento. Fui estacionar o carro e ele veio atrás de mim.
- Cardoso, como estás? – trocámos algumas palavras, e depois fui para casa.
Na manhã do dia seguinte, quando saí, lá estava ele! Lá me meti com ele…
- Então, Cardoso, dormiste bem? Como estás?
Brincámos um bocado e ele acompanhou-me ao carro.
Está-se mesmo a ver… ao fim da tarde, quando regressei á Aldeia da Mata Pequena, o Cardoso parecia que estava á minha espera. Levantou as orelhas e acompanhou o carro até ao estacionamento. Quando saí, o Cardoso começou a saltar para mim, e a querer morder-me as mãos! Sentia que podia confiar naqueles dentes! Nunca apertou as mandíbulas ao ponto de magoar! Parecia que naquelas “trincas” estavam beijos!
Nesse dia brincámos um pouco!
A nossa amizade ia crescendo a olhos vistos !
Depois de uma noite de descanso, perspectivava-se outro dia de passeio: Sintra fazia parte de um dos meus destinos.
Claro, a história repete-se! O Cardoso, ao ver-me, corre para mim! E juro, que ele vinha a rir-se!
Saltou, lambeu e mordeu-me as mãos! Desafiava-me a correr!
Tinha arranjado um amigo!
No último dia, as coisas mudaram! Inicialmente, o Cardoso correu para mim… Mas quando começou a ver o movimento de malas a entrar na bagageira do meu carro…
Chamei-o: Cardoso anda cá!
Mas ele olhou-me com um olhar triste, e ficou onde estava.
- Cardoso, então? Anda cá!
Nada…!
Encaminhei-me para ele, mas ele levantou-se chateado e virou-me as costas!
Com a cabeça baixa, foi sentar-se junto á porta do meu carro.
Fui ter com ele, mas, mais uma vez, virou-me as costas.
Estranho, pensei!
Mas eram horas de saldar contas com o Diogo, o gerente/dono/cicerone/telefonista/etc, da Aldeia da Mata Pequena.
Falei-lhe do Cardoso e de como ele parecia estar chateado comigo.
- O Cardoso – disse o Diogo – veio para cá há uns anos… era vadio, e quase não deixava ninguém aproximar… Sentia medo de tudo e de todos! Era um cão vadio, e via-se que tinha sido bastante maltratado! Entretanto, começámos a tratar dele… È estranho ele dar-se assim… Não é habitual! Geralmente é desconfiado e não permite que ninguém se aproxime!
O relógio era inimigo e o tempo passava a voar… A viagem para Lisboa, onde ia ver a peça de teatro da minha irmã, esperava-me.
Voltei a olhar para o Cardoso… Chamei-o… Deitado na estrada, com a cabeça apoiada nas patas, olhou-me com aquele ar de quem diz: Vai lá... Deixa-me!
Como não obtive resposta, fiz-me á estrada…
Olhei para o retrovisor e ele lá continuava deitado…
E assim ficou, a olhar o vazio…